Como vimos em outro post, a tomada de decisão é um processo importante – tanto na vida pessoal como nos ambientes corporativos. Ela envolve diferentes alternativas e análises e busca apontar o melhor resultado para um determinado problema.

Em uma ótica mais complexa, a tomada de decisão pode ser observada sob uma teoria matemática: a teoria dos jogos. Essa teoria enfatiza o estudo das tomadas de decisões de um indivíduo em um cenário de interação entre dois ou mais indivíduos – assim como ocorre em jogos de estratégia.

Neste artigo, vamos falar sobre a teoria dos jogos, compreendendo o seu conceito, seu surgimento e sua aplicabilidade no mundo acadêmico e no mundo corporativo.

Vamos lá?

Teoria dos jogos: conceito e surgimento

A teoria dos jogos é uma teoria matemática que estuda a tomada de decisão dos indivíduos quando seus resultados estão interligados à decisões de terceiros.

Assim, um jogo é vislumbrado como uma interação estratégica entre indivíduos e, nesta interação, há interdependência recíproca. Isso significa que a decisão de um indivíduo influencia os demais jogadores.

É importante destacar que, em um mesmo jogo, os objetivos podem ser diferentes de um jogador para o outro. No entanto, ambos estarão encenando a teoria dos jogos se estiverem utilizando a razão para tomar decisões e alcançar seu objetivo.

Os participantes de um jogo devem estar cientes do seu funcionamento. Portanto, devem ser observados os conceitos referentes ao jogo, aos jogadores, às estratégias e aos resultados.

O jogo deve apresentar um conjunto de regras e seus resultados. Para tanto, os agentes econômicos (jogadores) devem ser especificados, assim como as ações que cada um dos agentes pode realizar e as informações disponíveis aos indivíduos envolvidos no jogo.
Um jogo pode ser cooperativo, quando há a oportunidade de acordo entre os jogadores durante o jogo ou jogo não cooperativo, quando não é permitido o acordo entre os jogadores durante o jogo.

Os jogadores, por sua vez, são considerados indivíduos racionais que analisam o cenário do jogo e buscam maximizar seus resultados.

As estratégias são o conjunto de ações a serem realizadas durante o jogo. A melhor estratégia é aquela que prevê tanto os resultados positivos quanto os resultados negativos para cada uma das ações – tendo em vista que elas podem impactar ou ser impactadas pela decisão de terceiros.

Os resultados, por fim, apresentam, numericamente, os ganhos ou perdas decorrentes das ações dos indivíduos.

A relação entre jogos e a cientificidade foi apontada, em 1944, por Johannes von Neumann e Oskar Morgenstern no livro “Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico”, no qual as interações entre agentes permite a avaliação de comportamentos de decisão em diferentes cenários de concorrência. Em 1950, John Forbes Nash provou que há um equilíbrio de estratégias mistas para os jogos não cooperativos, no qual a escolha do agente é ótima quando ele adota a escolha dos demais indivíduos como referência.

Um exemplo bastante simples para ilustrar a teoria dos jogos é um leilão. Em um leilão, ocorre a negociação de itens que são ofertados a interessados, sem um valor preestabelecido. O indivíduo que fizer a maior oferta, leva o bem. Mas veja bem: a decisão do valor a ser ofertado pode implicar em um aumento da proposta por outros indivíduos.

Um dos mais famosos jogos que exemplifica a teoria dos jogos é o Dilema do Prisioneiro.

Dilema do prisioneiro

Um dos exemplos mais comuns sobre a teoria dos jogos é o Dilema do Prisioneiro. Nesse jogo, dois suspeitos (A e B) são capturados e presos separadamente. A polícia não possui provas suficientes para condená-los, mas oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros confessar e testemunhar contra o outro – e o outro permanecer em silêncio, o prisioneiro que confessar é libertado e o outro cumpre uma sentença de 10 anos de prisão. Se ambos os prisioneiros ficarem em silêncio, eles serão condenados a 6 meses de cadeia. Se ambos confessarem, eles serão condenados a 5 anos de cadeia.

Você consegue perceber a relação da teoria dos jogos e o dilema no qual se encontram os suspeitos?

A decisão que eles tomarem podem garantir o seu destino nos próximos 6 meses, 5 anos ou 10 anos. Assim, eles encontram-se com problemas para decidir o que farão e qual a estratégia definirão – para isso, precisam pontuar quais são as expectativas de ação do outro prisioneiro e quais são os resultados que podem advir de sua própria decisão.

Vamos falar mais sobre ele em um outro próximo post!

Teoria dos jogos no ambiente acadêmico

No ambiente acadêmico, a teoria dos jogos é uma importante alternativa na construção de conhecimento, principalmente nas áreas de negócios, como Administração, Ciências Contábeis e Economia.

Em disciplinas de caráter prático, que buscam relacionar o conteúdo teórico com as rotinas do ambiente de trabalho, a teoria dos jogos tem particular significado. Existem softwares (como os jogos empresariais) que apresentam diferentes cenários sob os quais os alunos devem simular as operações da empresa, como estratégias de compra, venda, controle de recursos físicos, tecnológicos e humanos, marketing entre outros.

Os alunos se organizam em equipes e representam empresas fictícias. As diferentes empresas são concorrentes entre si e as simulações são realizadas pelos alunos. Nesses cenários, os alunos encontram desafios de gestão, nos quais precisam tomar decisões importantes. Logo, a teoria dos jogos se insere nessas dinâmicas ao passo que as decisões de uma equipe podem impactar na decisão das demais equipes – é necessário conhecer o mercado para definir suas estratégias.

Teoria dos jogos no ambiente corporativo

Em um mercado competitivo, pode-se ilustrar a teoria dos jogos. Imagine que uma empresa A adota a estratégia de redução de preços visando um incremento em suas receitas. Caso uma empresa B, que seja concorrente direta de A, tome a mesma decisão para a oferta de seus produtos, é possível que o resultado buscado por A não seja atingido, tendo em vista que os cenários, para os consumidores podem ainda remeter à empresa B.

Nos cenários de administração pública também é utilizada a teoria dos jogos, pois é importante que o governo conheça o mercado e a concorrência para que otimize os resultados que promovam o bem-estar social.

Note, portanto, que em ambientes de concorrência, a teoria dos jogos tem bastante utilidade, tendo em vista que as estratégias adotadas pelas empresas (públicas e privadas) impactam nas atividades de seus concorrentes, tipificando a interdependência das ações e seus resultados. Assim, a teoria dos jogos passa a ter significado não somente no comportamento de indivíduos, mas também de empresas e do governo.

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